sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Uma vertente do conceito Big Brother

Todos nós temos alguém que consideramos um grande exemplo. Desde muito novos nos espelhamos nas pessoas: alguns se espelham na mãe, no pai, ou nos avós. Com o passar dos anos, nossas referências mudam. Passamos a admirar o (a) professor(a), o(a) amigo, algum pacifista, religioso, ou artista famoso. Mas o que me ocorre agora é que nós também somos referência pra muitas pessoas.
Na escola podemos ser referência pra algumas pessoas. Se você é do tipo CDF, você certamente é a referência que o professor usa na sala; o "aluno modelo". Ou se é aquele Bobo da Corte piadista, você certamente é referência dos outros caras da sala que também querem ser descolados e divertidos. (Esse exemplo da escola também se aplica ao trabalho, com as devidas alterações de cargo). Até como motorista podemos ser referência. Uma vez quando estava perdida segui um outro carro que parecia saber pra onde ia!
Em determinados momentos da minha vida, penso que o que eu faço não importa, que não sou uma pessoa com personalidade forte e capaz de influenciar outras pessoas. Hoje percebo o quanto esse pensamento é errôneo. Minhas duas últimas profissões me colocaram em uma posição de extrema exposição e influência sobre outras pessoas: professora e babá. Não ligo se você desvaloriza essas posições porque até eu mesma o faço as vezes. O próprio salario as desvaloriza. Mas esse não é meu ponto. Vamos à ele:
Ontem uma das meninas de quem cuido me mostrou um colar que a babá anterior, da França, deu à ela. Era uma linda correntinha de prata com a torre Eiffel e um sapato de salto alto cravado em pedras de strass. Em lágrimas ela me disse que guardou o colar quando a babá foi expulsa da casa por maltratar a filha mais nova do casal dono da casa. Entretanto, agora a menina esta tendo aulas de francês na escola e resolveu usar o colar e mostrar pra professora. Me assombra como o fato da menina gostar da professora de francês e das aulas fez com que ela superasse em termos o desapontamento e a mágoa que a antiga babá causou.
Como babá vejo o quanto a menina mais nova, que tem 4 anos de idade, gosta de me imitar. Ela come o que eu como, veste o que eu visto, quer ter o cabelo igual ao meu e faz questão que os outros percebam a semelhança entre a gente. Neste exato momento, exerço uma influência enorme sobre a vida dela. Sei também que como professora de inglês, os alunos buscavam em mim semelhanças com algum parente que vive no exterior, ou se baseavam em mim pra sonhar mais alto e conhecer novas culturas e pessoas.
Não posso me dar ao luxo de fazer o que bem entendo sem pensar nas consequências. Ainda que esteja fazendo algo que, a princípio, afetará só a mim, existem muitas pessoas ao meu redor que me observam, que se espelham em mim, e que também serão afetadas. Sem mencionar as pessoas que me amam e se importam com o que faço. Parece assustador, mas o conceito Big Brother é bastante real.
PS: O termo Big Brother originou-se a partir da obra 1984, de George Orwell e refere-se a o líder de um partido totalitário que, na trama, sabe tudo sobre cada habitante através de teletelas e informantes. Assim sendo, Big Brother é aquele que nos observa o tempo todo.


Um comentário:

  1. Bom texto. Fora do âmbito profissional, não me vejo como exemplo para alguém. Porém, quando você acaba alcançando-o, passa a desfrutar da "hierarquia", de suas regalias(fama, reconhecimento, bajulação) e de seus deveres (caso você pise em falso, será provavelmente mais lembrado do que antes, mas agora pelo ponto de vista ruim). É uma posição delicada, de fato.

    Interessante uma verdade que tenho para mim: ser exemplo para alguém é algo que ocorre passivamente. Aqueles que tentam ser exemplo -sendo "ser exemplo" o próprio fim - são celebridades passageiras que passam mais vergonha que exemplo.

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